O sistema de saúde brasileiro ainda enfrenta o desafio recorrente de combater falhas. Desde a falta e desperdício de recursos ao atraso tecnológico, uma série de problemas impacta o cotidiano na Saúde. Ao mesmo tempo em que precisa corrigir esses problemas, o setor enfrenta ainda o desafio de acompanhar as inovações tecnológicas - e implantá-las com eficiência.
Mas se engana quem pensa que basta ter tecnologias de ponta e as últimas novidades do mercado - é preciso ter um profissional capaz de acompanhar o ciclo de vida dos equipamentos, fazer a gestão de insumos na infraestrutura hospitalar e integrar entre a saúde e a tecnologia.
É aí que entra o engenheiro clínico. De acordo com a definição da American College of Clinical Engineering (ACCE), esse profissional é responsável por relacionar e desenvolver os conhecimentos de Engenharia e gerenciamento às tecnologias da saúde, com o objetivo de melhoria nas condições para garantir os cuidados adequados aos pacientes.
Ter este profissional em instituições de saúde é importante para garantir um bom sistema de cuidados, além de evitar falhas no funcionamento de equipamentos, e consequentemente, no processo de atendimento. Cada vez mais, esta área está ligada à gestão automatizada de equipamentos e o alinhamento com a tecnologia, principalmente com o surgimento das healthtecs e da implantação de softwares e ferramentas na área.
Essas ferramentas são essenciais por promoverem a otimização de processos, mas acima de tudo, por serem capazes de corrigir falhas e antecipar problemas que comprometem o sistema de saúde. Por isso, a tendência é que todas as instituições de saúde tenham um engenheiro clínico, atuando não somente na gestão e o controle adequados dos equipamentos e recursos, mas fazendo isso de forma automatizada, informatizada, tecnológica, eficiente e integrada com a equipe hospitalar.
Descubra nesse artigo porque essa é a profissão do futuro hospitalar e porque a demanda pelo engenheiro clínico tende a crescer ainda mais:
Pós-pandemia
A pandemia do novo coronavírus e suas consequências para a população nos ensinaram uma importante lição: hospitais e instituições de saúde devem estar melhor preparados e organizados para lidar com situações extremas no futuro. Isso requer a especificação, instalação, acompanhamento, utilização e manutenção de equipamentos médico-hospitalares, tecnologias e demais ferramentas que possam ser utilizadas. É nessa missão que a engenharia clínica desempenha um papel fundamental.
Com hospitais no “olho do furacão”, a necessidade de um profissional capaz de cuidar de todos esses aspectos se fez presente. A Covid-19 escancarou muitos problemas no setor da saúde. A necessidade de organização, a correta administração dos equipamentos tecnológicos, a instrução para o uso seguro dos recursos e a gestão de tecnologias nunca foram tão importantes.
Mais do que a disponibilização de equipamentos, o bom funcionamento deles se tornou crucial para salvar vidas. Ventiladores, monitores multiparâmetro, bombas de infusão e cardioversores devem funcionar com qualidade, para manutenção da vida.
Enquanto algumas instituições tiveram que realizar apenas alguns ajustes, outras enfrentam dificuldades extremas para contabilizar equipamentos, verificar suas calibragens, instruir funcionários para o uso… Essas etapas poderiam ser mais facilmente implantadas e executadas com a presença de um engenheiro clínico.
Crescimento e Saúde 4.0 dos hospitais
Já deu para entender que a organização e o planejamento da gestão das tecnologias e equipamentos em saúde não deve ser feito às pressas, ou no meio de uma crise com grandes demandas por serviços de saúde. Esse processo deve estar estruturado e sendo acompanhado constantemente e continuamente por um profissional qualificado, para que seja possível fornecer o melhor cuidado aos pacientes, principalmente em situações de crise.
Mais do que isso, esse processo precisa acompanhar as mudanças e inovações do mundo. Hoje, vivemos a Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, que é a continuação do desenvolvimento tecnológico por meio da utilização e criação de inovações. Essa realidade já alcançou os hospitais com a chamada Saúde 4.0, que vai de encontro às mudanças que ocorrem na Indústria 4.0 e tem como foco o uso de tecnologias aplicadas ao setor.
A tendência é que os hospitais estejam cada vez mais conectados, com seus equipamentos e dispositivos integrados sob uma rede que permite diversas funções como, o monitoramento, controle e registro de informações. A chamada Internet das Coisas (Internet of Things IoT) – é um conceito que promete ser crucial para essa conectividade. A IoT atribui à objetos convencionais uma integração por rede sem fio, de forma que estes possam se conectar entre si e ainda executar funções que antes eram feitas manualmente.
O futuro dos hospitais é cada vez mais tecnológico, e o engenheiro clínico será o profissional capaz de implantar e administrar todas essas tecnologias, cuidando do gerenciamento das tecnologias de saúde dentro da instituição e todo o ciclo de vida dos equipamentos. Consequentemente, a demanda por esse profissional deve crescer consideravelmente, junto ao desenvolvimento dos setores de engenharia clínica nos hospitais.
Por isso, o engenheiro clínico deve estar atento a uma série de demandas, que vão desde a gestão de tecnologias até o desenvolvimento e manutenção de propostas de modificação em equipamentos médicos. Além disso, precisa estar preparado para lidar com os desafios que possam surgir. Confira:
Demandas do engenheiro clínico
Serviços de saúde e profissionais envolvidos nesta área precisam atender algumas demandas, que buscam não somente o fornecimento de um atendimento exemplar, mas a integração de toda a equipe neste propósito. Confiram algumas delas:
1. Gestão de tecnologias
Como já foi reforçado anteriormente, a tecnologia é parte intrínseca da profissão e dos serviços de saúde atualmente. O engenheiro clínico precisa administrar todos os equipamentos do hospital: desfibriladores, sistemas de radiografia, aparelhos de ressonância magnética, bisturis eletrônicos, monitores de pressão arterial, etc. Muitas instituições de saúde já adotaram formas mais modernas de gerir esses equipamentos, utilizando softwares, analisadores e simuladores para testar a segurança, capacidade de funcionamento, análise do ciclo de vida e detecção de possíveis falhas.
O processo de controle dos dados e a gestão das informações foi informatizado, evitando a manutenção de inúmeras planilhas, gastos com impressão de papéis para anotação de dados, perda de hora técnica para encontrar e preencher dados, erros de anotação e acúmulo de papéis em arquivo físico, dificultando a localização de documentos.
Isso deixa o fluxo de trabalho muito mais rápido, possibilitando a antecipação de problemas e permitindo que o profissional corrija danos com agilidade. O engenheiro hospitalar deve estar capacitado para atuar com essas tecnologias, e também deve realizar a aquisição dos equipamentos junto ao hospital, ajudando a escolher os modelos mais adequados às demandas da instituição.
2. Capacitação ao uso seguro dos equipamentos nos pacientes
Mais do que administrar e comprar equipamentos, o engenheiro clínico precisa garantir que todos saibam administrá-los com segurança e eficiência. Por isso, ele precisa capacitar os profissionais que vão atuar diretamente com os recursos. O preparo para o uso de softwares e outras tecnologias que facilitem essa administração também cabe a ele: essas ferramentas são extremamente úteis, mas precisam ser compreendidas por toda a equipe.
3. Atuação em momentos de crise/catástrofe para montagem de unidades de saúde
Suponha que seja preciso montar um hospital de campanha às pressas. Quais equipamentos será preciso adquirir? Em que quantidade? Quais materiais serão necessários? Quais são as melhores opções? O engenheiro clínico deverá lidar com tudo isso e garantir o bom funcionamento da unidade hospitalar. A pandemia do novo coronavírus é um bom exemplo da importância dessa demanda, e como ela surge inesperadamente.
4. Desenvolvimento/manutenção e propostas de modificação de equipamentos médicos
Uma vez que equipamentos são adquiridos e utilizados, pode ser necessário fazer modificações ou ajustes que permitam seu uso com total capacidade e eficiência, melhorando também o atendimento ao paciente. O engenheiro clínico deve fazer a gestão da manutenção dos equipamentos, identificando quando e onde é preciso fazer modificações.
Manter práticas apenas corretivas, ou seja, somente quando o equipamento está danificado, sem nenhum planejamento ou estratégia para evitar a falha do equipamento hospitalar é uma forma pouco eficiente de conduzir as manutenções.
Isso pode afetar diretamente a rentabilidade financeira dos hospitais.
Por isso, o profissional deve se atentar aos 3 principais tipos de manutenção aplicados:
Preditiva: esse tipo de manutenção, menos utilizado, visa antecipar possíveis problemas baseando-se no monitoramento constante dos dados de cada equipamento ao longo do tempo.
Preventiva: trata-se de uma manutenção programada baseada na priorização de equipamentos, elaboração de roteiros e cronogramas.
Corretiva: esse tipo de manutenção deve ser evitado a todo custo. Isso porque ela é necessária quando há grande desgaste ou falha do equipamento. O tempo de parada do equipamento acarreta em altas perdas financeiras para o hospital.
5. Aquisições rentáveis e coerentes
Outra demanda importante que engenheiros clínicos devem estar atentos é a necessidade de economia. Instituições de saúde possuem restrições orçamentárias a serem seguidas, então além de procurar equipamentos eficazes, o profissional deve alinhar essa demanda à escolha por um equipamento econômico.
Desafios do engenheiro clínico
Assim como toda profissão, o engenheiro clínico enfrenta alguns desafios, que exigem superação diária. Um desses desafios é mostrar a importância do seu trabalho e os resultados na instituição em que atua. Normalmente, o engenheiro a área hospitalar não consegue divulgar seus resultados, que são mais perceptíveis na dinâmica do dia-a-dia. Por isso, por vezes é preciso reforçar a importância do seu trabalho, relembrar da essencialidade do bom funcionamento dos equipamentos e do seu papel na garantia dessa eficiência.
Outro desafio importante é o gerenciamento de equipes. Como foi dito anteriormente, o profissional não fica somente responsável pela gestão das máquinas, mas também pelos funcionários que as utilizam. Portanto, o engenheiro clínico deve instruir, orientar e liderar colaboradores para uso correto e adequado.
Por fim, a atualização constante é outro desafio enfrentado diariamente, uma vez que o profissional lida diretamente com tecnologias, que são atualizadas e modificadas de forma recorrente.
Onde o engenheiro clínico pode trabalhar?
Apesar de ser essencial em instituições de saúde, desde grandes hospitais até centros especializados, o engenheiro clínico também pode atuar em outros segmentos relacionados a área da saúde. Alguns exemplo de campos de atuação são:
Serviços de saúde;
Fabricantes;
Representantes;
Consultor;
Perito judicial;
Professor;
Órgãos reguladores.
Oportunidades em Engenharia Clínica
A Engenharia Clínica é uma área em constante crescimento, conforme as necessidades de um profissional capacitado aumentam. A tendência é que este segmento se expanda ainda mais, com a importância do engenheiro clínico sendo reforçada para acompanhar a Saúde 4.0 e as mudanças do mundo.
Por instrução normativa, recomenda- se que o departamento de engenharia clínica esteja presente em todas as instituições hospitalares, com um responsável técnico atuante na gestão de equipamentos. Mesmo assim, muitos gestores hospitalares não contratam esse profissional e o substituem por técnicos que realizam serviços esporádicos de manutenção. Vários hospitais devem começar a estruturar este setor, buscando não somente atender à norma, mas também prevenir o cenários de crise, por meio de uma gestão contínua dos equipamentos hospitalares. Portanto, oportunidades em hospitais e demais instituições de saúde devem surgir com frequência.
Além de atuar dentro da instituição de saúde, o engenheiro clínico e hospitalar pode trabalhar como um consultor, prestando apoio a várias instituições, auditar empresas de Engenharia Clínica ou fazer laudos de evento adverso. Outra área promissora é a de perícia judicial: o engenheiro clínico pode atuar na análise de questões referentes a equipamentos médicos e emitir laudos.
Competências
Se engana quem pensa que para ser um engenheiro hospitalar basta apenas saber operar os equipamentos médicos e administrar softwares. Além do conhecimento técnico, este profissional precisa estar preparado a lidar com demandas diárias, cobranças e outros colaboradores, necessitando portanto de algumas competências chave para o sucesso:
1. Comunicação e trabalho em equipe
Uma instituição de saúde é feita por um time de pessoas, que inclui médicos, enfermeiros, técnicos e demais colaboradores. Os equipamentos, portanto, são utilizados por várias pessoas em momentos diferentes, e isso requer que todo saibam operá-los. O engenheiro clínico deve ter capacidade de comunicação e trabalho em equipe, para instruir e orientar com clareza quanto ao uso das ferramentas, principalmente softwares ou outro recurso utilizado para a manutenção.
Os profissionais devem estar capacitados para traçar metas ambiciosas a fim de minimizar os danos à saúde do paciente e maximizar a utilização dos recursos. Além disso, deve estar em constante comunicação com médicos e enfermeiros para, em conjunto, identificarem falhas e possíveis melhorias que assegurem a integridade do paciente.
2. Atualização contínua
Inovações tecnológicas surgem constantemente, otimizando processos e modificando a forma de praticar determinadas atividades. Novos equipamentos hospitalares, mais modernos e eficientes, surgem a cada dia. Softwares usados para monitoramento dos equipamentos passam por atualizações e melhorias. Dessa forma, o profissional precisa estar à par das mudanças, preparado para implantá-las no hospital quando necessário.
3. Trabalhar sob pressão
A saúde é uma área em que garantir a saúde e o bem estar das pessoas é uma prioridade. Decisões erradas, falhas ou demora nas atitudes podem resultar na perda de vidas. Portanto, o profissional deve ser capaz de trabalhar sob pressão, buscando atuar com agilidade para cumprir demandas urgentes garantindo a qualidade do atendimento ao paciente.
4. Boa administração
O engenheiro clínico fica responsável por toda a gestão dos equipamentos. Por isso, deve ser capaz de administrá-los, realizando inspeções e calibragens com frequências, realizando as substituições e reparos sempre que for necessário. Precisa ter controle sobre todos os equipamentos, não se esquecendo de etapas importantes ou afazeres.
Tendências
A Saúde 4.0 promete trazer inovações cada vez mais eficazes à rotina de trabalho. O uso de softwares, simuladores, analisadores e outras ferramentas que auxiliem a gestão dos equipamentos hospitalares é uma tendência que vai movimentar o mercado e otimizar o trabalho do engenheiro clínico. A incorporação dessas ferramentas requer o profissional capacitado para fazer isso.
A implantação de softwares já é realidade em diversos hospitais, que promete crescer ainda mais conforme mais instituições de saúde buscam estruturar um setor de engenharia clínica. O uso de um bom software, aliado ao apoio de um profissional, permite a gestão eficiente de todo o inventário, diminuição do custo com mão de obra devido ao aumento da produtividade. E redução de tempo de parada do parque tecnológico e de manutenções corretivas.
O trabalho como consultor em instituições de saúde também será uma tendência e é uma boa área de atuação. Alguns hospitais precisarão do estruturação completa deste setor, ampliando ainda mais as oportunidades na área.
Pós-graduação
Para atuação como engenheiro clínico, cursos profissionalizantes e pós-graduações são essenciais. O mercado possui diversas possibilidades e trajetórias possíveis, mas o desenvolvimento das competências e conhecimentos específicos são essenciais. A profissão carrega grande responsabilidade, por afetar e influenciar diretamente em vidas humanas, exigindo portanto a capacitação adequada.
Cursos alinhados com o papel que as transformações que o mundo 4.0 exercem nas profissões são ideais. A Engenharia Clínica é uma área fortemente ligada às inovações tecnológicas, utilizando dessas ferramentas e recursos para otimizar o trabalho.
O Instituto E-Class está atento à essas mudanças. Você pode conferir o nosso curso de pós-graduação em Engenharia Clínica e Hospitalar, que segue a metodologia de Educação 4.0. Trata-se de um método que utiliza recursos tecnológicos para potencializar os estudos, por meio da internet, mídias sociais, inteligência artificial, realidade virtual, entre outros. Os benefícios das ferramentas digitais são combinadas ainda com a metodologia ativa, em que, mais do que simplesmente absorver o conteúdo, o aluno aprende por meio da prática, desenvolvendo projetos e experiências.
A profissão do futuro exige mais do que conhecimento técnico: atualização e agilidade se tornaram características do engenheiro clínico qualificado, pronto para enfrentar desafios e crises com sabedoria.